sábado, 26 de janeiro de 2013

Texto velho, sentimento velho.

"Uma lágrima cristalina desceu por seu rosto, brilhou ao refletir a luz do Sol.
Meu coração apertou, pediu clemência, implorou que o tirasse de meu peito sufocante. Sumiu, sumiu tudo quando vi aquela lágrima, foram-se coisas as quais eu dava uma importância demasiada, mas que naquele momento percebi: de nada valiam! Aqueles amores surrados, velhos, encravados em meu peito voaram feito balões com hélio, aquelas dores egoístas que em meu peito já não cabiam, aquelas meninices que podia viver sem, aqueles devaneios loucos que não deveria ter tido, sumiu. Sumiu tudo, meu bem. Desapareceu. Desapareceu porque sua dor invadiu meu peito, porque o importante passou a ser secar com urgência aquela lágrima que era tão bonita, mas eu a via com repúdio, ela sujava seu rosto de tristeza amarga. Sujava o rosto de quem eu amava."
- Luna

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Aos livros, pessoas e saudades.

Eu não sou, nem de longe, das mais românticas, mas um dia eu chorei quando li o último parágrafo de um livro. Vou te contar que não era dos melhores, mas eu me apeguei à história, era um daqueles livros que você se coloca no lugar do personagem principal e acaba por fugir do que quer que esteja fora das páginas e, quando fecha o livro e deita a cabeça no travesseiro, continua pensando na história, e remoendo as palavras lidas e sendo aquele cara ou aquela mulher que está vivendo aquela vida tão maravilhosa e inacreditável. Você vira de um lado para o outro na cama, tenta fechar os olhos e se entregar ao sono, mas chega uma hora - cerca de dez minutos depois - que você já não consegue mais fingir que conseguirá adormecer, acende a luz e pega o maldito do livro e volta a lê-lo.
Voltando ao começo - lá quando eu disse que um dia chorei ao ler o fim de um livro - como eu disse, eu me apeguei a história. O final não era bonito, não era trágico, não era nada demais, era até um pouco meloso demais para o meu gosto, mas a questão aqui é que era o final. Fim. The End. Ende. τέλος. Fine. Fin. Como leitora ávida daqueles livros eu me senti na obrigação de xingar de muitos nomes a autora deles, que ela me perdoe.
Eu chorei de raiva, de indignação, de tristeza, de vazio. Droga, porque ela tinha que acabar ali? Como eu ia continuar fugindo para aquela maldita história? Não, ler de novo não é a mesma coisa.
São essas malditas boas histórias que te prendem e não te largam. Elas são como amantes cruéis que te envolvem sem sua permissão e silenciosamente te jogam em uma armadilha covarde em que você não pede para entrar, mas que você não quer sair.
Desde muito pequena crio esses laços com os livros e com as pessoas. Quando comecei a escrever, lembro-me que um professor sempre me dizia "Deixou a desejar na conclusão", o problema era que eu não queria concluir porque eu queria continuar vivendo aquilo, mergulhando de cabeça em cada palavra do texto como se eu não precisasse nunca voltar à superfície para respirar.
Isso é o que os livros - os bons livros - e as pessoas tem em comum, pelo menos para mim: eles chegam ao fim, eles te seduzem, te prendem, te envolvem, te atraem, te arrancam risos leves e gargalhadas, frios na barriga, amores, amizades, carinho, apreço, mas existe ali sempre a eminencia do fim e você não pode ignora-la. Uma hora o fim chega e o máximo que pode ser feito é fazer que tenha sido o tipo de história que deixará saudade e o tipo de fim que deixará aquele misto delicioso de porções equilibradas de boas e más emoções, que o fim te faça chorar, mas não por ser ruim, simplesmente por significar que acabou, mas não significar que todo o resto tenha sido em vão.

- Luna

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

"Deitada ali sozinha em meio a meus devaneios abstratos, ocorreu-me de repente um verso. Tateei com urgência minha cama em busca de uma caneta e um caderno que sempre ficavam ali para o caso de meus delírios escorrem por meio de palavras que, estranhamente, nunca eram ditas, apenas escritas. Logo me perdi outra vez em pensamentos e o verso que me invadira, fugiu por entre as brechas irreparáveis de mim. Eu deixava muita coisa passar, sabe? Havia coisas que guardava no ínfimo de mim que, por Deus!, só eu podia chegar até elas. Mas a viagem era um tanto cansativa, acidentada, perigosa e ao chegar lá o lugar era absolutamente inóspito. Então eu fazia raras as viagens a este canto de Minh’ alma. Já a parte de mim que não era digna de qualquer bom olhar - mesmo que de soslaio – ficava exposta, na superfície de meu ser me fazendo parecer uma piscina rasa quando na verdade eu era imensidão, oceano. Mas talvez esse âmago de mim que você pode acreditar não existir preferisse mergulhar tão fundo assim em meu interior para manter-se protegido, aquecer-se longe do frio da superfície e adormecer, hibernar num inverno que mais parece eterno até que chegue a primavera para despertá-lo. Talvez a primavera fosse alguém, talvez alguma coisa, um olhar, um sorriso, um toque, um acontecimento, um pensamento, um flerte, um afago, um amor, uma amizade. Talvez a primavera também estivesse bem escondida ali numa parte de mim… Como era grande a minha capacidade de devanear! Mas enfim, não era mesmo um verso assim tão bom."
Luna